E quando temos saudades de nós?
- Vanda Paulino
- 7 de jul. de 2021
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Saudade. Tão nossa. Tão portuguesa. Uma antítese, tão cheia de sentido e de vazio.
Saudades do passado. Saudades da infância, de um local, da família, de um amigo perdido, de correr descalça na rua, do cheiro a bolo de maçã feito pela avó, do sabor da manteiga derretida no pão caseiro acabado de ser tirado do forno, de deglutir avidamente os figos colhidos da árvore, ainda quentes, do banho ao rio, do colo da mãe, de dar um mergulho no mar, do palpitar ribombante do coração ao avistar uma louca paixão, de correr atrás de uma criança, de andar de barco, de um abraço de quem já partiu.
O passado são dias e noites vividas. São lágrimas e sorrisos. São raivas contidas, gritos uivados, mágoas profundas. São risos assobiantes, brilhos resplandecentes. São amores perdidos, são amores encontrados. São amizades conquistadas, são amizades findadas.
Sem passado não somos nós. Sem passado não vivemos. Sem passado não aprendemos. Sem passado não teríamos Saudades. Nunca teríamos bebido da fonte preciosa da humanidade. Não viveríamos sem ela. Desidrataríamos. Afogar-nos-íamos na ausência. Ausência de nós próprios.
O passado são sentimentos, são palavras, são dores, são emoções. Somos nós. E quando temos saudades de nós? Vivemos. Carregamo-nos ao colo. Sentimo-nos, porque é dentro de nós que nos encontramos. E quando temos saudades de nós? Abraçamo-nos, porque somos passado, presente e futuro. Somos nós. Somos tudo.

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