Avós. Tão nossos.
- Vanda Paulino
- 26 de jul. de 2021
- 2 min de leitura
Avós. Palavra tão forte para designar um amor tão belo e tão doce.
Há anos que deixei de ter a presença física deles. Há anos que os recordo com saudades. Há anos que não intitulo os seus nomes. Mas há anos que os mantenho vivos no meu coração e no meu pensamento. Sei que existem avós que não merecem o título. Assim como também existem pais sem qualquer apetência para ter filhos. A escolha da nossa árvore genealógica não contempla a mesma premissa das alternativas descritas num cardápio de um restaurante nem admite a devolução quando não agrada o nosso palato. Mas os bons, aqueles que cheiram a água-de-colónia, que transpiram bondade e ternura e que sabem a pouco, tão pouco quanto o tempo que têm para nos dadivar, esses são uma combinação deliciosa entre a escolha do coração e o acaso do universo. O meu Universo foi generoso e o meu coração agraciado. Concedeu-me os melhores avós. Recordo com alegria o colo e os mimos. O arroz doce, o bolo de cabeça e as broas dos santos, as rabecas estaladiças regadas com açúcar e azeite acabadas de sair do forno a lenha, o frango guisado e a canja saborosa que surgia duma marinada fervida durante 3h, o requentado com peixe frito, a Carriça e o seu andar vagaroso a puxar a carroça, as corridas e os tropeções nos torrões da horta, o chá de salva branca para aconchegar o estômago, os caracóis e as rochas comidos às escondidas antes de dormir mas cujo açúcar ao canto da boca me delatava, os feijões e as favas semeados debaixo da laranjeira para satisfazer a curiosidade de ver crescer algo tão determinante quanto a aparência de umas pequenas sementes, os ramos de flores colhidos para adornar a jarra do meu quarto e tantas outras lembranças tão melífluas quanto o tempo. Não me sinto tão saudosa das palmadas ofertadas e por vezes também testadas, mas que com toda a certeza, merecidas. Mas são as recordações que nos concedem a felicidade e o privilégio de os ter sentido. De os ter vivido. Os avós, os sábios contadores de histórias que criam a nossa. Uma história tremendamente verdadeira, forte e solene, tatuada para sempre na nossa alma. Os avós, que criam memórias que o coração guarda para sempre, são hoje e sempre a nossa grande dádiva.

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