À descoberta das margens da Ribeira da Foz
- Vanda Paulino
- 18 de ago. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 1 de set. de 2021
No Verão vivo sobressaltada, tropeçando nos desassossegos, caminhando à boleia de informações e dançando ao ritmo da natureza. A temperatura derrete-me o discernimento e as imensas horas que compõem um dia toldam-me o discurso. Mas disserto habilmente sobre a palavra gratidão, sobre o silêncio fortuito, sobre a tranquilidade caridosa. É neste trilho, exausta e dorida, com o corpo inchado e a mente ocupada, que me entrego à generosidade da diversidade latente. A humidade cola-se à pele, ouvem-se sons aglutinados em diferentes intensidades e transpira-se ausência. A força das raízes apodera-se da história presente. As paredes centenárias, camaleónicas, escondem-se na vegetação mas vislumbram-se na penumbra. Sou engolida pelo tempo. Marcho a passo lento, sinto tonturas ao pisar o minúsculo passadiço, trémula, tento aderir ao cabo como se de uma hera me tratasse. Solto impropérios quando sinto o sangue a escorregar na pele e uma dor aguda a apertar me o peito. As silvas defendem os seus direitos. Crescem ao longo do muro de pedra, absorto pelas briófitas e imiscuem-se nos fetos e nas figueiras. As dissimuladas borboletas exibem as suas bonitas cores numa coreografia envaidecida, para de seguida, se esconderem nas árvores e outras plantas. Ouço a cascata ao fundo. A ribeira, que outrora alimentava os moinhos a montante, corre mais lenta, até se precipitar na clareira. O pequeno lago formado desenha novamente o seu leito até encontrar o seu curso. Continuo a caminhada. Os pés nem sempre acompanham o passo, tropeço neles, mas sigo. A escuridão verde da vegetação densa dá lugar a um céu laranja de pôr do sol. A ribeira segue até desaguar no gigante curso de água um pouco mais adiante enquanto eu sigo para casa. Regresso desassossegada, pois continua a ser verão e embora encontre o ritmo das notas musicais ao som da natureza, continuo a derreter os pensamentos ao sabor da temperatura que a estação tem para ofertar. As libelinhas, borboletas, peixes, fetos, figueiras, trepadeiras e lagares escondem uma história esquecida na floresta. Eu revivo-a num silencioso e infinito pensamento. Aqui na Ribeira da Foz. Um oásis de conservação da natureza, no concelho da Chamusca, que convida à sua visita.
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