Paixões projetadas
- Vanda Paulino
- 13 de out. de 2023
- 1 min de leitura
Ali despertou o amor da bela ninfa Eco. Poderia ser um início de texto da mitologia, não grega mas libanesa. Ali não caiu no grande lago mediterrânico apaixonado pela sua beleza, não só porque não condenou o amor da sua bela ninfa como também havia trocado o seu país natal por uma ponta negra. Todas as histórias começam por uma ponta e esta findou-se tão negra quanto o seu perfil.
"Esmagar" alguém de amor
com sinais de adoração e punição é um projeto manipulador arquitectónicamente bem elaborado. Inicialmente desenha-se a planta, depois dá-se um orçamento para a mesma e por último concebe-se a obra. A obra libanesa demorou a ser arquitetada e foi sendo erigida aos poucos, com alguns percalços. Mas o "engenheiro" estava determinado a cumprir o seu plano. E esse, era tão viciante quanto a carga hormonal infligida à sua ninfa. O plano diabólico levou anos a ser construído. Foram colocados os pilares, a placa e erigiram-se paredes. Até ao dia em que a facada na autoestima da ninfa foi tão profunda que nem a dopamina e as endorfinas habitualmente libertadas conseguiram ativar novamente o prazer da sedução em detrimento da convulsão emocional sentida. Deu-se o grito. A ninfa jurou afogar o seu narciso, não no mediterrâneo, mas no oceano Atlântico em terras lusas. Arquitetou um plano para ela, desenhou o seu projeto, orçamentou-o e desde então erege as suas paredes, interiores e exteriores, com determinação. Agora, o único bombardeio de amor que aceita é o seu. O amor próprio. Resgatado juntamente com a sua independência.

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