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Os desamores do dedo podre

  • Foto do escritor: Vanda Paulino
    Vanda Paulino
  • 16 de mar. de 2022
  • 2 min de leitura

Quem o feio ama bonito lhe parece. Que triste ditado nos ensinam desde tenra idade para personificar a estupidez intrépida de uma alucinante paixão. Os defeitos convertem-se em qualidades e as manias em graças.

Mas sabes que mais?

Desamo-te meu amor.

Cansei me de perder tempo a pentear carpetes, esticar as rugas à colcha da cama ou alisar as almofadas do sofá. São tarefas que exigem mais tempo do que aquelas que dispendo para o cuidado do meu próprio cabelo e pele. E afinal quem é a mulher nesta casa? Passar creme de rosto em movimentos circulares e secar os genitais com o secador de cabelo não combinam muito bem com a minha definição de masculinidade.

Desamo-te meu amor.

Cansei-me de encontrar a loiça na pia e a roupa suja para lavar após um longo dia de trabalho. As minhas mãos têm de ser poupadas, são a minha ferramenta de trabalho e tu, antes de mim já tinhas duas para trabalhar, ou não? Já tenho cabelos brancos mas ainda não pari nenhuma criança, duas, já sem fraldas sujas para mudar não são o meu designio de adoção.Odeio gracinhas de miúdos, para isso, tinha os meus. Daqueles que saem das entranhas, expulsos por um golpe certeiro na pélvis ou por um valente sopro vaginal. Não, também não és para mim. A promoção dizia paga um, leva dois, mas nem sempre ficamos bem servidas.

Desamo-te meu amor.

Cansei-me de mensagens clandestinas. Estás com dúvidas. Tens uma certa no cardápio, mas não és feliz, ela não te trata bem, não te compreende e não te incentiva e gostavas de experimentar outra iguaria. Quem sabe não soubesse melhor ao palato e valesse a pena começar a introduzir novas receitas ao menu. Deixa-me que te diga. Se tens uma certa, não me mandes mensagens cheias de purpurinas e corações. Gosto muito de alongamentos, mas não faço pinos. Se queres aulas de yoga privadas, continua a comer da mesma carta, eu não sirvo para tira sabores.

Desamo-te meu amor.

Desamo os obsessivo compulsivos, os meninos da mamã, os Don Juan, os Peter Pan e os boys lixo. Inclusivamente os estrangeiros. Gosto muito de massa e pizza mas não estou com mood para tirar à força os hidratos de carbono acumulados mas minhas células nem acredito que a Fontana di Trevi me conceda desejos tão mundanos. Se é para pedir, mais vale desejar um Apolo grego.

Acompanhado de um luar e de uma mesa cheia de sushi.

Se é para pedir, que me lambuze e chupe os dedos, porque ultimamente os meus têm sido fraca varinha de condão e em vez de luz só me têm concedido podridão.

Desamo-vos meus amores, porque me amo mais a mim!


Sátira dos tempos modernos sobre relacionamentos líquidos e fugazes de uma amiga, para despertar risadas a quem sofre por amor (escrito para uma Ela, inspirado em verdadeiros factos sobre os seus desamores, mas igualmente plausível de acontecer a um Ele).



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