Porto, Cidade Invicta
- Vanda Paulino
- 16 de jun. de 2021
- 1 min de leitura
Atualizado: 7 de jul. de 2021
Costumamos dizer que voltamos sempre onde fomos felizes. Mas nem sempre assim acontece.
Há vinte anos fui muito infeliz nesta cidade. Sonhava com o regresso a casa, chorava lágrimas suplicantes de saudades e tremia de ansiedade cada vez que regressava. Odiei a cidade, o clima, a comida, a casa e a faculdade. Mas adorava as pessoas daqui. Vivia num bairro onde no São João se estendiam mantas na rua e se assavam sardinhas à porta do prédio, onde os mini mercados eram chamados de pomares, onde me tratavam por menina juntando o diminuto ao nome, onde o Vasquinho (o arrumador de carros lá do bairro) me escoltava até à porta de casa quando a noite se adensava, prometendo que ali ninguém fazia mal aos seus e onde se criavam galos na varanda para no Natal e na Páscoa se cozinhar o famoso arroz de cabidela. Eu era menina do bairro, mas não o queria ser. Fugi da cidade assim que tive oportunidade e jurei nunca mais voltar. Aprendi que muitas vezes as juras não são para sempre, tal como acontece com as juras de amor que se desvanecem, fruto de paixões desenfreadas e atropeladas pelo tempo, e regressei. Aprendi que também voltamos aonde fomos infelizes para dar nova dimensão à definição de felicidade. Voltei e tornei a voltar vezes sem conta porque descobri que afinal sou menina do bairro e que essa marca uma vez impressa jamais é apagada.

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