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Porto, Cidade Invicta
Quando era criança era fascinada pela série de ficção "Espaço 1999", cuja história era sobre a ocupação de uma base lunar chamada Alpha e a sua viagem pelo espaço. Imaginei em inúmeras ocasiões como seria a minha vida quando chegasse aquela data tão longÃnqua e se eventualmente já viverÃamos também no espaço envergando fardas colegiais. No rescaldo do desapontamento, em 1999, quase na viragem de século, a única viagem mais distante e alucinante alguma vez realizada, para ocupação de algo que não a minha casa, foi na cidade do Porto. Sendo uma adolescente, a viver numa aldeia do Ribatejo, pouco conhecedora de outros locais para além da cidade que me viu nascer e Lisboa, a capital, fiquei surpreendida com a Invicta. Cidade de contornos escuros, sotaque acentuado, comida pesada e meteorologia tão oscilante quanto o meu estado de humor. Frequentei o curso de Biologia tripartido na Faculdade de Ciências. Chamo-lhe assim porque para conseguir tirar esta licenciatura tive de viajar, diariamente, entre 3 polos universitários. Nunca havia, em toda a minha vida, percorrido tantos kms em autocarro, maioritariamente de pé, tipo sardinha em lata, carregada de livros. Leões, Campo Alegre e Jardim Botânico, era assim que os diferenciávamos, embora teoricamente os dois últimos polos estivessem ambos na mesma rua. Comida pesada para uns é chamado de pitéu para outros. Hoje dizem que sou vegetariana ou esquisita, porque não como carnes vermelhas nem alimentos processados, a definição torna-se laica nas palavras de outros, não adianta perder-me em explicações, mas naquela altura provei todas as iguarias possÃveis. A francesinha, muito conhecida como ex-libris do restaurante Capa Negra, foi sempre a minha preferida. Seguida de um belo lanche. Na minha terra, lanche era pão com queijo, fiambre e um iogurte, mas aqui encontrei uma definição mais saborosa e completa, digna de veneração e culto, substituto de um almoço para quem não precisa de muito alimento. No que toca a sotaque, na praxe tive de trautear o slogan de um iogurte muito conhecido e quando o fazia, os doutores riam-se à s gargalhadas dizendo "esta moura tem um sotaque tão ridÃculo". Naquela altura não conhecia o emoji da miúda com uma mão a tapar a cara, sinónimo de "dah", mas o sentimento era esse, de incredulidade, se alguém tinha sotaque eram eles! Pontos de vista. Na altura era a minha verdade absoluta, hoje entendo que sotaque, todos temos, independentemente de onde vimos e que aquilo que soa aos nossos ouvidos apenas pode ser considerado diferente por não ser habitual. Nunca me habituei ao tempo. Perdi a conta aos chapéus de chuva partidos e à quantidade de vezes que não tinha capacidade para ouvir o professor falar porque apenas ouvia o ranger dos meus dentes. A cidade mantém-se escura, resultado do tipo de material usado na construção, mas o qual lhe dá um charme e requinte caracterÃstico. Em 2000, o Porto foi considerado capital europeia da cultura. Para tal, as obras de melhoramento decorreram pelo menos entre 1999 e 2003, com ruas cortadas, crateras na via pública e mudanças de direção de trânsito quase semanais. Julgo que conheci a cidade no pior. No dela e no meu. Entre as obras constantes, o mau tempo e as saudades de casa, não nos tornamos amigas. Em 2003, cortamos relações e só alguns anos depois reatamos a amizade. Muitas vezes nos acontece, fazer juÃzos de valor errados. Quem nunca julgou uma pessoa com base no seu aspeto, inclusivamente criticou ou afastou-se dela dizendo ter um sexto sentido e afinal errou redondamente, porque de facto aquela mesma pessoa afinal é um ser humano extraordinário e com quem se tem grande afinidade? Quem nunca, não é? Comigo sucedeu o mesmo, metaforizando a pessoa. A amizade entre mim e esta cidade tornou-se tão forte que visito-a sempre que posso. A escuridão, embora esteja presente nos edifÃcios, já não a encontro, considero-a tão vibrante que me parece extremamente luminosa. Quanto ao tempo, esse já está disfuncional em qualquer parte do globo que também já não se vê aqui grande diferença. A comida, continua a ser tÃpica, com imensas ofertas locais e um sem fim de possibilidades, inclusivamente para "vegetarianas esquisitas", dado que também existem imensos restaurantes de comida saudável, vegetariana e vegan, alguns com variações dos pratos tÃpicos da região adaptados aos novos paladares. O Porto já não é a cidade que temi e com a qual me desapontei, muito pelo contrário, cada vez que volto fico com mais vontade de regressar, mesmo que seja aos mesmos locais, porque vale muito a pena conhecer os habitantes, que considero muito afáveis, as tradições, que são inenarráveis e os monumentos, imponentes e históricos.
Os locais que considero de visita obrigatória: a zona ribeirinha, caminhar ao longo do paredão até à Ponte D. LuÃs, subir a Rua das Flores e fotografar os quadros elétricos com as frases tÃpicas, admirar os azulejos na Estação de S. Bento, visitar a igreja da Batalha (subindo pelo lado da estação de comboios ou apanhando o funicular junto à ponte, do lado da Ribeira), fazer compras na Rua de Santa Catarina e beber um café no histórico "Majestic", percorrer a avenida dos Aliados, subir os 225 degraus da Torre dos Clérigos e admirar a vista fabulosa numa perspetiva a 360º, entrar na Livraria Lello, percorrer a praça dos Leões, visitar as igrejas do Carmo e Carmelitas e fascinar-se com a fachada de azulejos da primeira, caminhar nos jardins do Palácio Rosa Mota (mais conhecido por Palácio de Cristal), visitar o Museu de Serralves, sobretudo os seus jardins, caminhar na Foz até ao castelo do Queijo e terminar a visita no Parque da Cidade. Para além destes pontos turÃsticos existem muitos outros locais para visitar, dependendo do tempo e do interesse do visitante. Para quem tem carro, ver o Porto do lado de Gaia, desde a ponte D. LuÃs até ao cais da Afurada é super recomendável. Dá uma perspetiva bem diferente dos prédios da zona ribeirinha e tem um encanto misterioso. Para comer, existem imensas possibilidades mas para quem gosta de vegetariano, deixo as sugestões dos restaurantes "Manna" ou "Em Carne Viva", para comida tradicional, a "Conga", "Cufra" ou "Capa Negra" e para quem gosta de comer com vista "17º Restaurante e Bar" ou a "Casa de Chá da Boa Nova".
Para complementar, julgo que a seguinte frase define na perfeição esta cidade tão maravilhosa: «O Porto não é em rigor uma cidade: é uma famÃlia. Quando algum mal o acomete, todos o sentem com a mesma intensidade; quando desejam alguma coisa, todos a desejam ao mesmo tempo. Os portuenses são tão ciosos da integridade da sua cidade, como os portugueses em geral da integridade da nação.» E não voltamos sempre a casa para visitar a famÃlia, mesmo quando estamos longe? Assim o fazemos com o Porto, Cidade Invicta!
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